terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

 

2 comentários:

  1. Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
    Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
    e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
    O vento da noite gira no céu e canta.

    Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
    Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
    Em noites como esta tive-a em meus braços.
    Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

    Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
    Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
    Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
    Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

    Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
    E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
    Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
    A noite está estrelada e ela não está comigo.

    Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
    A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
    Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
    O meu coração procura-a, ela não está comigo.

    A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
    Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
    Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
    Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

    De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
    A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
    Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
    É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

    Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
    a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
    Embora seja a última dor que ela me causa,
    e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

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  2. Quando tuas mãos saem,
    amada, para as minhas,
    o que me trazem voando?
    Por que se detiveram
    em minha boca, súbitas,
    e por que as reconheço
    como se outrora então
    as tivesse tocado,
    como se antes de ser
    houvessem percorrido
    minha fronte e a cintura?

    Sua maciez chegava
    voando por sobre o tempo,
    sobre o mar, sobre o fumo,
    e sobre a primavera ,
    e quando colocaste
    tuas mãos em meu peito,
    reconheci essas asas
    de paloma dourada,
    reconheci essa argila
    e a cor suave do trigo.

    A minha vida toda
    eu andei procurando-as.
    Subi muitas escadas,
    cruzei os recifes,
    os trens me transportaram,
    as águas me trouxeram,
    e na pele das uvas
    achei que te tocava.
    De repente a madeira
    me trouxe o teu contacto,
    a amêndoa me anunciava
    suavidades secretas,
    até que as tuas mãos
    envolveram meu peito
    e ali como duas asas
    repousaram da viagem.

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obrigado pelos carinho